Explorar o universo da maconha pela primeira vez pode ser emocionante e ao mesmo tempo desafiador, especialmente em um cenário político e social como o do Brasil, onde questões legais e culturais se entrelaçam. Desde as discussões sobre a descriminalização até a diversidade de espécies de maconha, os efeitos no corpo humano e as práticas de redução de danos, há muito a considerar para aqueles que estão dando os primeiros passos nesse mundo. Este texto busca guiar os novatos por esse labirinto de informações, oferecendo insights sobre as diferentes espécies de maconha, os efeitos que ela pode ter no corpo e mente, além de estratégias para um consumo consciente e responsável.
O Cenário no Brasil hoje e a votação em aberto no STF.
4e20 é a hora de fumar.
Origem da maconha.
Composição química e efeitos da maconha em nosso corpo.
As diferenças entre Sativa, Indica e Ruderalis.
E o que é o haxixe?
Consumo consciente: dicas para redução de danos.
O Cenário no Brasil hoje e a votação em aberto no STF.
Você sabe como funciona a lei para usuários de maconha no Brasil e o que está em discussão no STF?
Pois bem, nos dias de hoje, uma pessoa que for pega consumindo maconha não pode ser presa, mas pode ser sancionada com medidas administrativas, como advertências sobre o consumo de drogas, a realização de cursos educativos ou a prestação de serviços à comunidade. Ou seja, apesar de não ser um crime passível de cárcere, o artigo 28º da Lei 11343/06 diz que algumas punições podem ser aplicadas ao usuário que consome, guarda, transporta ou tem em sua posse uma droga sem autorização prévia.
No entanto, as aplicações legais podem mudar de acordo com a quantidade de maconha que for encontrada junto ao indivíduo. Apesar das questões técnicas ainda serem muito discutidas, com margem para diferentes interpretações, a Lei 11343 (aprovada em 2006 e apelidada Lei de Drogas) institui a pena de prisão para quem for pego portando grandes quantidades de maconha, sob o crime de Tráfico de Drogas. Porém, a quantidade exata para ser considerado tráfico não está prescrita na constituição, o que ainda gera muita desequilíbrio no modo como são tratados diferentes casos.
Atualmente sabemos que a balança da justiça brasileira tende a pesar para as pessoas negras, pobres e moradores de periferia, que muitas vezes são encarceradas por tráfico com quantidades mínimas de maconha, superlotando as prisões, enquanto cidadãos de classes sociais mais altas conseguem driblar a penalização e acabam não recebendo o mesmo tratamento perante à polícia e aos tribunais.
É exatamente por conta deste cenário que o STF trouxe o assunto para votação aqui no Brasil (o placar atual é de 5x3 em favor da descriminalização; ainda faltam 3 ministros votarem). Caso o porte e o consumo de maconha seja descriminalizado, ainda que esteja em votação a quantidade permitida, muitas pessoas que hoje estão presas por tráfico terão o direito de serem soltas após pedido e oficial junto à justiça. Mas não se engane, caso a maconha seja descriminalizada por decisão do STF, ela não será legalizada. Ou seja, ela seguirá proibida de ser produzida em escala, distribuída e vendida em estabelecimentos comerciais, pois não haverá uma regulação própria para estes processos. Na verdade, a descriminalização permitirá que o usuário faça uso da substância sem ser punido por isso. Então, nada de sair por aí perguntando se farmácias e tabacarias vendem a verdinha, ein!?
Mesmo antes do término desta votação, você já deve ter conhecimento de alguns casos em que cidadãos brasileiros recebem permissão para cultivar ou consumir maconha. No cenário atual da legislação, os poderes públicos oficiais emitem autorizações de consumo de Cannabis apenas para usuários que possuem prescrição médica para tratamento de alguma doença/condição. Normalmente os medicamentos são óleos extraídos diretamente da planta, mas as autorizações abrem margem para o consumo da própria planta in natura.
Além disso, algumas pessoas, organizações e associações possuem permissão para cultivar e produzir maconha sob a justificativa da utilização medicinal, por meio de Habeas Corpus emitido por um juiz.
4e20 é a hora de fumar.
Todo bom maconheiro que se preze reconhece o número 4e20 como símbolo da cultura canábica, frequentemente associado a um momento do dia ideal para queimar aquele do bom.
A origem exata desse termo é um pouco incerta e envolta em mitos e lendas urbanas. Uma das histórias mais conhecidas remonta a um grupo de estudantes da Califórnia na década de 1970, que se encontravam regularmente às 4:20 da tarde para fumar maconha. Esses encontros se espalharam e, ao longo do tempo, a expressão "4e20" tornou-se uma espécie de código secreto para o consumo de Cannabis.
Algumas fontes também explicam que o grupo escutou de policiais o código “4e20” para se comunicarem entre si sobre o flagrante de consumo de maconha, mas isso nunca foi confirmado pelos órgãos policiais.
De qualquer forma, a partir daí, o conceito de "4:20" se espalhou para além da Califórnia, tornando-se parte da cultura em todo o mundo! A data de 20 de abril (4/20 no formato de data americano) também foi adotada como um dia de celebração para os apreciadores da maconha ao redor do mundo, com eventos e marchas organizadas em várias cidades.
Origem da maconha.
Essa é uma curiosidade que sempre surge nas rodas: da onde vem a erva? Bom, a maconha é uma planta que tem sido cultivada e utilizada há milhares de anos. Apesar de não ser um consenso geral, estudos apontam que sua origem remonta ao período neolítico (entre 10.000 A.C. e 3.000 A.C), com evidências arqueológicas sugerindo que a planta era cultivada inicialmente na Ásia Central, na região Noroeste da China.
Ao longo da história, a Cannabis desempenhou papéis importantes em diversas culturas ao redor do mundo. Civilizações antigas, como os chineses, indianos, egípcios e gregos, faziam uso da planta em rituais religiosos, cerimônias de cura, e também como uma fonte de fibra, através do cultivo de cânhamo (uma subespécie da maconha), para a produção de tecidos e cordas.
A disseminação da Cannabis ocorreu por meio das rotas comerciais antigas, como a Rota da Seda, que conectava o Oriente Médio à Ásia Central, Europa e África. Com o tempo, a planta chegou a diferentes partes do mundo, adaptando-se a diferentes climas e condições de crescimento. Aqui no Brasil, a maconha chegou através dos escravos africanos no período colonial, por volta do século XVIII.
Mas é no século XX, principalmente sob influência do movimento da contracultura, que a verdinha passou a ganhar mais apreço entre os cidadãos brasileiros. Desde então, apesar do forte proibicionismo e de muito preconceito, ela tem se adentrado cada vez mais nas diversas camadas da nossa sociedade.
Composição química e efeitos da maconha em nosso corpo.
Agora que já falamos um pouco sobre a origem da planta, vamos detalhar um pouco mais sobre a composição das substâncias e como agem em nosso corpo. É muito importante ter consciência daquilo que consumimos e das eventuais consequências que esse contato direto pode trazer.
Você sabia que as plantas de maconha são como verdadeiras fábricas químicas? É isso mesmo! Elas produzem uma série de compostos, mas os mais famosos são os chamados canabinoides. Esses caras são os responsáveis pelos efeitos alucinantes e terapêuticos da maconha.
Como já comentado, O THC (Tetrahidrocarbinol), composto pela família dos fenóis, é o principal componente da maconha, sendo responsável por deixar nossa mente chapada e nosso estômago faminto. Ele é encontrado em todas as partes da planta, mas concentra-se principalmente nos tricomas (aquela resina translúcida presente na superfície das folhas que as tornam “brilhantes”).
Mas como ele age? Bom, primeiro, é importante explicar que o corpo humano já produz alguns canabinóides internamente e, por isso, temos um sistema endocanabinóide capaz de assimilar os compostos provenientes da Cannabis (Sem esse sistema, a maconha não teria efeito nenhum para nós humanos). Assim, o THC basicamente se liga aos receptores canabinóides da nossa cabeça, responsáveis pelas sensações de relaxamento, prazer, nossa memória, coordenação motora e percepção do tempo. Essa conexão ocorre no hipocampo, uma parte específica do cérebro, fazendo com que os neurônios liberem dopamina (conhecida por ser uma das substâncias do prazer). Isso vai afetar nosso estado de euforia, causando algumas alucinações e até afetando nossa memória.
E por que ficamos com fome?
Acontece que alguns neurônios receptores do nosso sistema endocanabinóide são responsáveis por manter o equilíbrio de diversas funções, inclusive a fome. Por isso, eles avisam nosso corpo quando estamos com fome, mas também avisam quando estamos saciados. E é neste ponto que a maconha entra: as moléculas de THC vão agir de forma a inibir essa comunicação dos receptores de apetite. Por isso, mesmo com estômago cheio, nosso corpo não entende que estamos saciados. Somado a isso, a maconha ainda é capaz de agir em uma região do cérebro que aumenta a sensibilidade aos aromas e sabores, tornando os alimentos mais atrativos e prazerosos de comer. Ah, sem esquecer da liberação da dopamina, o neurotransmissor do prazer (seja o prazer de transar ou de comer).
Agora, não podemos esquecer do CBD, o Canabidiol. Esse é o irmão mais tranquilo do THC. Ele não faz você ficar chapado, mas é um verdadeiro herói para quem sofre com dor crônica, ansiedade, insônia e uma porrada de outros problemas de saúde. Sim, é o CBD o principal composto da já conhecida maconha medicinal.
O CBD é todo zen, trazendo uma sensação de calma e relaxamento sem afetar a sua lucidez. É como uma massagem suave para a mente, aliviando a ansiedade, o estresse e até mesmo ajudando na hora de pegar no sono. Ele também age se conectando com os receptores do nosso sistema canabinóide, ajudando a regular essas funções e trazendo equilíbrio ao nosso organismo. Por exemplo, o CBD pode aumentar a disponibilidade de neurotransmissores como a serotonina, que está associada ao humor e ao bem-estar.
Além disso, o CBD também tem propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, o que significa que ele pode ajudar a combater a inflamação e proteger as células do estresse oxidativo. Isso é especialmente importante para pessoas que sofrem de doenças inflamatórias crônicas, como artrite, ou que estão expostas a altos níveis de estresse.
E não para por aí, o CBD também tem sido estudado por seus potenciais efeitos no tratamento de uma série de condições médicas, incluindo epilepsia, ansiedade, depressão, esquizofrenia e até mesmo câncer. Embora mais pesquisas sejam necessárias para entender completamente seu potencial terapêutico, os resultados até agora são promissores.
Mas aí você pode estar pensando: "Beleza, mas e os outros canabinoides?". Ah, meu amigo, a Cannabis é uma verdadeira fábrica de canabinoides! Tem o CBC, o CBG, o CBN, entre outros. Cada um tem seus poderes únicos e contribui de alguma forma para o bem-estar do nosso corpo e mente. Além disso, nossa plantinha querida é rica em Terpenos, que são moléculas vegetais produzidas pelo metabolismo das plantas, desempenhando as funções de proteção e atração de insetos polinizadores. Mas a principal características dos terpenos é que eles são muito aromáticos e se espalham pelo ar até encontrar o nariz de animais e seres humanos. É por isso, por exemplo, que alguns Buds possuem um cheiro tão bom!
As diferenças entre Sativa, Indica e Ruderalis.
Este tópico é bem importante pra você entender que não existe apenas uma espécie de planta. Algumas dão um efeito mais relaxado, outras exaltam a criatividade e euforia, e outras até nem dão tanto efeito, pois possuem outras aplicações.
Cannabis sativa: Esta é uma das espécies mais conhecidas e amplamente cultivadas de Cannabis. As plantas de Cannabis sativa geralmente têm folhas finas e longas e são conhecidas por crescerem altas e esguias. Elas tendem a ter um efeito mais energizante e cerebral quando consumidas, e são frequentemente associadas ao uso recreativo.
Cannabis indica: As plantas de Cannabis indica geralmente são menores e mais compactas em comparação com as variedades de sativa. Elas têm folhas largas e densas e tendem a produzir um efeito mais relaxante e sedativo quando consumidas. Indica é frequentemente preferida para uso noturno ou para alívio do estresse e da ansiedade.
Cânhamo (Cannabis Ruderalis): Esta é uma espécie cultivada em comparação com sativa e indica. A Cannabis Ruderalis é frequentemente encontrada em regiões do norte, como na Rússia e na Europa Oriental. Ela é conhecida por seu ciclo de vida curto e resistência ao clima adverso. Embora não seja tão popular para uso recreativo, por conta de seu baixo nível de THC (Tetrahidrocanabinol), o composto psicoativo da Cannabis, a Ruderalis é valorizada por sua genética autoflorescente, o que significa que pode entrar no estágio de floração independentemente do fotoperíodo. No entanto, o foco de seu cultivo é a utilização de suas fibras e sementes para fins industriais, principalmente na produção de tecidos, papel, bioplásticos, alimentos e suplementos.
Vale ressaltar que dentro dessas espécies ainda existem diversas outras sub espécies (ou cepas), cultivadas de diferentes maneiras a ponto de desenvolverem aparências, aromas e sabores únicos. Alguns exemplos dessas subespécies são as famosas 24k, Purple Haze, Amnésia Kush, AK47, Northern Lights, Sour Diesel, etc.
E o que é o haxixe?
Além da planta em si, existe uma outra forma em que o THC é encontrado e consumido pelos maconheiros. Estamos falando do Haxixe, que nada mais é do que a extração da substância psicoativa em sua versão concentrada, normalmente com de consistência viscosa, meio grudenta, e coloração marrom.
Existem algumas variações no processo de extração do THC, mas de maneira geral são divididos em: processos com ou processos sem solventes, resultando em concentrados com visuais. Alguns mais viscosos, maleáveis e coloração marrom clara (quase mel). Outros são mais firmes e de coloração escura. Temos um texto explicando exatamente cada um desses processos aqui em nosso Blog.
Para consumi-los, muitas pessoas utilizam Dabbers superaquecidos para derreter a matéria, que vira fumaça e vai pra cabeça. Outras pessoas gostam de misturar com tabaco e enrolar na seda, possibilitando uma combustão uniforme.
Consumo consciente: dicas para redução de danos.
Talvez o tópico mais importante desse texto, principalmente para quem teve um primeiro contato recente com a Cannabis. Apesar de todos os benefícios medicinais e até industriais da planta, ela contém substâncias que, ao serem ingeridas, mexem com nosso corpo e nossas sensações. E os cuidados não são apenas com a maconha, mas com todas as outras substâncias que podem ser ingeridas e modificam os sistemas do corpo humano.
Pensando nisso, aliás, muitos países já adotaram oficialmente uma política pública para orientar sua população. Aqui no Brasil, por exemplo, “foi em 2005 que o ministério da saúde passou a regulamentar a Redução de danos para determinar ações que visam reduzir os riscos à saúde, elevando a questão ao nível social, e não individual”.
Já escrevemos um artigo aqui em nosso blog sobre as melhores dicas para redução de danos, e você pode conferi-las clicando aqui. De qualquer forma, nunca é demais relembrar, mesmo que resumidamente, as melhores práticas para o consumo consciente.
1 - Conheça a qualidade e procedência da erva ou haxixe que você está adquirindo. Fique esperto com eventuais misturas, adulterações ou até apodrecimento do produto.
2 - Lave seu prensado. Essa é uma boa prática de retirar as impurezas do fumo. Depois de deixar de molho na água, não esqueça de secar bem, normalmente com papel toalha ou algum aquecedor.
3 - Não segure a fumaça quando estiver tragando, isso pode te causar mal estar. A falácia de que isso chapa mais é apenas uma lenda. Na verdade, cerca de 95% do THC já é absorvido pelo seu corpo logo na primeira tragada.
Prender a fumaça vai apenas bloquear a chegada do oxigênio ao seu cérebro, resultando em tonturas desnecessárias.
5 - Se você ainda não tem muita experiência e estiver dando os primeiros passos na sua relação com a maconha, busque uma companhia e um lugar agradável para fazer a sua Session. Isso pode te ajudar a evitar ou a controlar eventuais “bad trips”.
6 - Controle a quantidade de maconha consumida: o consumo excessivo pode trazer efeitos negativos à saúde, como ansiedade, paranóia e até mesmo dependência. Escute seu corpo e entenda os momentos que a maconha não te atrapalha durante o dia-a-dia, principalmente relacionado à disposição e concentração para realizar algumas atividades.
7 - Evite o uso combinado com álcool. A mistura de substâncias potencializa o risco de efeitos imprevisíveis. Seu organismo não está acostumado com tantas substâncias estranhas ao mesmo tempo
8 - Muito importante: beba água! Ela sim é uma boa mistura quando se está no meio da Session. A água de ajuda a hidratar o corpo.
9 - Use vaporizadores. Uma ótima opção alternativa aos cigarros bolados. A vaporização é um processo menos prejudicial ao nosso sistema respiratório pois produz menos toxinas do que o processo de carbonização (queima). Além disso, nosso corpo acaba ingerindo menos fumaça do que quando fumamos um cigarrinho bolado.
Ah, caso você não tenha como arranjar um vaporizador, tente utilizar piteiras ou bongs de vidro nas suas sessões. Eles também ajudam a resfriar a fumaça que você traga!
10 - FIQUE DIBOA! É isso mesmo: a nossa dica final é para que você queime seu beckzinho por prazer, e não por pressão ou compulsão. O negócio é ficar em paz, consumir no seu tempo e no seu espaço. Não precisa exagerar, não precisa fumar se não quiser. Aproveite o momento, curta a brisa. E se, por um acaso, bater uma bad trip, respira fundo, bebe uma água e tente se tranquilizar, pois essas coisas acontecem! É mais normal do que você pensa.
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